Ladainha

 OCriS PODCAST - Temporada 2022 - Episódio 06

Experimento sonoro colaborativo presencial realizado no dia 13 de setembro de 2022 no Laboratório de Música e Sonoplastia da Universidade Federal do Tocantins, câmpus Palmas.

Participações: Andrey Tamarozzi, Arthur Paião, Hudson Ralf e Whisllay Jr

Direção: Heitor Oliveira

Diário de bordo

Ao debater o experimento anterior, Tempestade, o grupo constatou que se trata de um resultado com sonoridades musicalmente mais familiares, devido à presença de ritmos pulsantes e linhas melódicas diatônicas.

A repetição, que caracteriza a ação sonora ostinato, proporciona um caráter de previsibilidade. Mas também proporciona a possibilidade expressiva da teimosia, quando o atuante insiste na ação, mesmo que os demais já estejam instaurando outro pulso ou outras lógicas sonoras.

Na experiência de escuta, a leitura dos trechos de Shakespeare contamina a percepção, sugerindo momentos de transição e, até mesmo, relações expressivas entre a poética sonora e o conteúdo semântico dos textos lidos. Assim, tanto os ostinatos quanto as leituras possuem caráter estruturante do resultado sonoro dessa sessão de improvisação.


Imagem enigmaticamente ilustrativa

Experimento da semana

O modelo de ação sonora estudado na semana foi o melos, definido a partir das contribuições do compositor e professor brasileiro César Guerra-Peixe (1914-1993) no livro Melos e Harmonia Acústica. Neste método, formulado para estudo introdutório em composição musical, Guerra-Peixe sugere diretrizes de construção melódica: estrutura rítmica simples com durações uniformes, prioridade para o movimento por graus conjuntos, compensação de saltos por movimento na direção oposta, evitação de repetições, sequências, arpejos e outros padrões melódicos e desenho de um arco melódico com ápice antecipando a finalização.

Aqui, na metodologia de improvisação SomAção, essas diretrizes são adaptadas como modelo de ação sonora (com certo grau de flexibilização). O melos é uma ação sonora mais complexa que as descritas anteriormente, por ser constituída de vários gestos que precisam ser integrados pela intenção de exposição melódica e pela qualidade de experiência discursiva. Por não se apoiar em repetições, o melos exige foco prolongado para concretização da ação sonora, com início, meio e fim. Esse esforço, quando realizado em tempo real, para além de resultados idealizados e totalmente aderentes às diretrizes teóricas, abre um campo de exploração expressiva e janelas para narrativas não-verbais.

Para o experimento sonoro colaborativo, o espaço foi organizado com alguns instrumentos e objetos que foram explorados por todos os participantes, com as ações sonoras a seguir: xilofone (ostinato e lista de motivos melódicos), tambor (ostinato e tremolo), clava (ostinato e tremolo), garrafa (lista de sons possíveis com esse objeto), piano (sustentação de nota pedal) e voz (sustentação e melos).

O piano foi utilizado apenas para inserir notas pedais. A cada vez que uma nota pedal era introduzida, um dos atuantes deveria assumir posição previamente definida e realizar a ação sonora de melos vocal. A sessão de improviso deveria ser concluída após a ocorrência da terceira instância desta ação.

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