Não é você, sou eu

OCriS PODCAST - Temporada 2022 - Episódio 04

Experimento sonoro colaborativo presencial realizado no dia 30 de agosto de 2022 no Laboratório de Música e Sonoplastia da Universidade Federal do Tocantins, câmpus Palmas.

Participações: Andrey Tamarozzi, Arthur Paião, Hudson Ralf e Jairo Faria

Direção: Heitor Oliveira

Diário de bordo

No episódio, Andrey faz um diário de bordo falado, relatando as questões e referências discutidas entre o grupo ao longo do encontro presencial do dia 30 de agosto.

Na escuta do episódio anterior, Galopeira, supreendeu-nos a diferença de percepções entre o momento da realização do experimento e a escuta acusmática posterior de seu resultado. Essa escuta posterior, aliada às reações de outros/as ouvintes, permite diversas associações, imagens e narrativas, algumas delas até contraditórias entre si.

Se o que está em construção é uma metodologia de música-teatro improvisada, onde é possível encontrar o teatro nessa proposta? Está na presença e na poética corporal/sonora do experimento? Está na opacidade de sentidos e ênfase em estímulos perceptivos, numa espécie de teatro escuro sensorial? Está nas múltiplas imagens e narrativas evocadas?

O que parece evidente desde já é o potencial desta prática de gerar múltiplos registros e produtos, o que marca o seu pontencial para desdobramentos artísticos, pedagógicos e acadêmicos.

A conversa também abordou a noção de atitudes de escuta (derivada da discussão de Michel Chion, em seu livro A Audiovisão): na escuta referencial, o som é imediatamente reconhecido como manifestação de sua fonte sonora; na escuta semântica o sentido das palavras é a prioridade; na escuta reduzida, busca-se uma análise morfológica do som pelas suas características intrínsecas. Na metodologia de improvisação que estamos explorando, há lugar para essas diferentes atitudes de escuta, moldando diferentes modelos de ação e interação sonora e os campos de escolha em seu desenvolvimento. 


Imagem contraditoriamente ilustrativa.

O experimento da semana

O modelo de ação sonora que pauta esse experimento sonoro colaborativo é a lista/catálogo. Esse modelo de ação sonora é caracterizado pela intenção de enumerar, explorando a qualidade de experiência de esgotar um assunto.

Como referência, podemos mencionar os textos líricos baseados em listas. Por exemplo, na ópera, temos o infame catálogo das aventuras de Don Giovanni, na ária Madamina, il catalogo è questo, cantada por Leporelo. Na música popular também não faltam exemplos, como Come Together dos Beatles e Sutilmente, do Skank.

Para sair do âmbito das listas semânticas, remeto ao compositor Luciano Berio (1925-2003), que aborda a ideia de catálogo como técnica composicional em obras que admitem citações e uma mutação constante de possibilidades sonoras, como o catálogo de sons vocais em A-Ronne. Aqui, a lista, é de timbres e inflexões sonoras.

Em nosso experimento, exploramos três listas:

  • Timbres possíveis em folhas de jornal;
  • Ataques diferentes em um teclado de piano;
  • Situações de fim de relacionamento.
O modelo de interação sonora que predomina no experimento é o burburinho, com os atuantes priorizando o foco em suas ações individuais, para alcançar o resultado coletivo de sustentação de uma nuvem de som constante e irregular.

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