As orquestras e conservatórios dedicam-se fielmente ao estudo, interpretação e difusão de obras dos grandes mestres dos séculos XVIII e XIX, tais como Haydn, Mozart e Beethoven. A tal ponto que pouco nos damos conta de questões fundamentais como: o que, de fato, significa ouvir a música de concerto europeia do período clássico hoje em dia?
Por outro lado, uma grande parcela da música de concerto produzida a partir da segunda metade do século XX fica sumariamente excluída deste mesmo circuito. Pelos padrões gramaticais de organização tonal e rítmica dos materiais que caracterizam a hegemônica música clássica, essa produção mais recente tende à não-música. Mas qual o sentido expressivo das investigações sonoras dos compositores da segunda metade do século XX, frente à tradição?
Esse duplo questionamento é particularmente caro aos que se dedicam à composição musical na atualidade. Entretanto, na maior parte do tempo permanecemos sem propostas claras para comunicar o senso de profundidade histórica implícito em toda e qualquer performance da música de concerto, sem o qual muito de seus aspectos técnicos e potencial expressivo ficam perdidos. Sem dúvida, um dos motivos é que se tratam de questões para a pesquisa artística, para as quais não há respostas lineares e totalizantes, mas verdadeiras possibilidades criativas.
Em uma performance memorável à frente da Orquestra Sinfônica de Gothenburg, a cantora e regente Barbara Hannigan oferece um momento estético único que explora com maestria possibilidades que relaciono às perplexidades descritas acima. Colocadas lado a lado, a música vocal a cappella marcadamente política e tonalmente etérea de Nono e uma das sinfonias perfeitamente balanceadas de Haydn, são comentários mútuos, cuja escuta revela muito mais que qualquer elaboração verbal seria capaz de espelhar. Igualmente potentes, e relevantes para a experiência, são a presença e a musicalidade impecável de Hannigan, magneticamente dominando o palco e a performance.
Na minha experiência de assistir performances ao vivo, o único paralelo que consigo traçar é com concertos dirigidos por Antonio Carlos Borges-Cunha à frente da Orquestra de Câmara do Teatro São Pedro, em Porto Alegre, que assisti nos anos de 2015 a 2017. Ali, o maestro demonstrava seu conhecimento da música recente e sua capacidade de construir programas que criam contextos favoráveis à comunicação do conteúdo expressivo dessas obras, ao mesmo tempo que lançam nova luz sobre o repertório sinfônico tradicional.
Por outro lado, uma grande parcela da música de concerto produzida a partir da segunda metade do século XX fica sumariamente excluída deste mesmo circuito. Pelos padrões gramaticais de organização tonal e rítmica dos materiais que caracterizam a hegemônica música clássica, essa produção mais recente tende à não-música. Mas qual o sentido expressivo das investigações sonoras dos compositores da segunda metade do século XX, frente à tradição?
Esse duplo questionamento é particularmente caro aos que se dedicam à composição musical na atualidade. Entretanto, na maior parte do tempo permanecemos sem propostas claras para comunicar o senso de profundidade histórica implícito em toda e qualquer performance da música de concerto, sem o qual muito de seus aspectos técnicos e potencial expressivo ficam perdidos. Sem dúvida, um dos motivos é que se tratam de questões para a pesquisa artística, para as quais não há respostas lineares e totalizantes, mas verdadeiras possibilidades criativas.
Em uma performance memorável à frente da Orquestra Sinfônica de Gothenburg, a cantora e regente Barbara Hannigan oferece um momento estético único que explora com maestria possibilidades que relaciono às perplexidades descritas acima. Colocadas lado a lado, a música vocal a cappella marcadamente política e tonalmente etérea de Nono e uma das sinfonias perfeitamente balanceadas de Haydn, são comentários mútuos, cuja escuta revela muito mais que qualquer elaboração verbal seria capaz de espelhar. Igualmente potentes, e relevantes para a experiência, são a presença e a musicalidade impecável de Hannigan, magneticamente dominando o palco e a performance.
Na minha experiência de assistir performances ao vivo, o único paralelo que consigo traçar é com concertos dirigidos por Antonio Carlos Borges-Cunha à frente da Orquestra de Câmara do Teatro São Pedro, em Porto Alegre, que assisti nos anos de 2015 a 2017. Ali, o maestro demonstrava seu conhecimento da música recente e sua capacidade de construir programas que criam contextos favoráveis à comunicação do conteúdo expressivo dessas obras, ao mesmo tempo que lançam nova luz sobre o repertório sinfônico tradicional.
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