Para o compositor grego radicado na França Georges Aperghis, o trabalho a que se propõe é de inventar maneiras de relacionar música e teatro distintas daquelas herdadas da ópera ou do concerto.
Em seu teatro musical, tanto uma situação teatral é apresentada e desenvolvida como performance musical, quanto gestualidade e visualidade da performance musical são desenvolvidas a ponto de adquirir sentido teatral. O compositor investe no deslizamento entre performance (apresentação de ações inerentes ou não à execução vocal e instrumental) e representação (construção ou sugestão de uma narrativa ficcional no espaço cênico).
Em Graffitis (vídeo abaixo), Aperghis enfrenta as demandas cênico-musicais a partir de um mesmo conjunto de procedimentos composicionais, com operações de fragmentação, construção gradativa e interpolação de materiais.
O material vocal da peça é construído, inicialmente com sílabas onomatopaicas e, depois, com um pequeno trecho do Fausto de Goethe, fragmentado e apresentado gradativamente, de tal maneira que, a partir de um certo ponto na performance, seu sentido semântico emerge (para os ouvintes familiares com o idioma alemão). A apresentação gradativa é concretizada por meio de procedimentos composicionais de construção progressiva, construção retrógrada e construção bidirecional.
Cada camada da composição prossegue com suas próprias lógicas internas e potenciais de sentido, de tal maneira que se desenham distintos arcos narrativos e representacionais. Em uma camada, a própria performance encena um percurso da execução musical à atuação cênica. Em outra camada, a sequência de ações introduzidas a partir do primeiro momento em que o percussionista olha para as baquetas suspensas precipita a eventual dissolução da performance ao sugerir, na figura do performer, a representação de alguém dividido entre a responsabilidade de executar um roteiro de ações e o desejo de apanhar algo que lhe falta, mas se encontra fora de seu alcance. Note-se que a execução percussiva é toda realizada com as mãos e o objeto sugerido pelo compositor é justamente um par de baquetas. Em outra camada, o percussionista é ressignificado como narrador melodramático relatando a história do texto, ainda que essa representação seja distorcida pelas manipulações composicionais da vocalização e da corporalidade do músico/ator.
As soluções composicionais para organização dos materiais correspondem simultaneamente, por um lado à coerência e senso de direção musical e, por outro lado, à proposta de concretização cênica da peça, ou seja, sua encenação. A teatralidade decorre das próprias condições criadas para a performance, passando ao largo da questão da verossimilhança.
A abordar a teatralidade como dimensão estética da música de concerto, o processo de representação é indissociável do transcorrer da execução musical no tempo real de performance. E é nesse sentido que, em uma peça como Graffitis, as escolhas composicionais relacionadas à estrutura (divisibilidade em partes) e à forma (disposição dos conteúdos e suas continuidades) musicais implicam na criação de condições para a concretização cênica da performance.
Em seu teatro musical, tanto uma situação teatral é apresentada e desenvolvida como performance musical, quanto gestualidade e visualidade da performance musical são desenvolvidas a ponto de adquirir sentido teatral. O compositor investe no deslizamento entre performance (apresentação de ações inerentes ou não à execução vocal e instrumental) e representação (construção ou sugestão de uma narrativa ficcional no espaço cênico).
Em Graffitis (vídeo abaixo), Aperghis enfrenta as demandas cênico-musicais a partir de um mesmo conjunto de procedimentos composicionais, com operações de fragmentação, construção gradativa e interpolação de materiais.
O material vocal da peça é construído, inicialmente com sílabas onomatopaicas e, depois, com um pequeno trecho do Fausto de Goethe, fragmentado e apresentado gradativamente, de tal maneira que, a partir de um certo ponto na performance, seu sentido semântico emerge (para os ouvintes familiares com o idioma alemão). A apresentação gradativa é concretizada por meio de procedimentos composicionais de construção progressiva, construção retrógrada e construção bidirecional.
Cada camada da composição prossegue com suas próprias lógicas internas e potenciais de sentido, de tal maneira que se desenham distintos arcos narrativos e representacionais. Em uma camada, a própria performance encena um percurso da execução musical à atuação cênica. Em outra camada, a sequência de ações introduzidas a partir do primeiro momento em que o percussionista olha para as baquetas suspensas precipita a eventual dissolução da performance ao sugerir, na figura do performer, a representação de alguém dividido entre a responsabilidade de executar um roteiro de ações e o desejo de apanhar algo que lhe falta, mas se encontra fora de seu alcance. Note-se que a execução percussiva é toda realizada com as mãos e o objeto sugerido pelo compositor é justamente um par de baquetas. Em outra camada, o percussionista é ressignificado como narrador melodramático relatando a história do texto, ainda que essa representação seja distorcida pelas manipulações composicionais da vocalização e da corporalidade do músico/ator.
As soluções composicionais para organização dos materiais correspondem simultaneamente, por um lado à coerência e senso de direção musical e, por outro lado, à proposta de concretização cênica da peça, ou seja, sua encenação. A teatralidade decorre das próprias condições criadas para a performance, passando ao largo da questão da verossimilhança.
A abordar a teatralidade como dimensão estética da música de concerto, o processo de representação é indissociável do transcorrer da execução musical no tempo real de performance. E é nesse sentido que, em uma peça como Graffitis, as escolhas composicionais relacionadas à estrutura (divisibilidade em partes) e à forma (disposição dos conteúdos e suas continuidades) musicais implicam na criação de condições para a concretização cênica da performance.
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