Em O Espelho, composição minha estreada em abril de 2017 (vídeo abaixo), dois performers executam múltiplas fontes sonoras e vocalizações. A peça desenvolve uma dramaturgia inspirada pelo conto homônimo de Machado de Assis, com fragmentos de textos do próprio Assis, de Shakespeare, Longfellow e Perrault. A montagem de estreia foi interpretada por Heitor Oliveira e Aline Martins, contando também com iluminação cênica de Charles Nunes.
A problemática colocada em questão nessa composição é o lugar da mimésis, ou seja, da representação nas minhas propostas cênico-musicais. Em experiências anteriores constatei que, uma vez colocada em jogo uma teatralidade, a apresentação (performance musical) passa a ter, quase inevitavelmente, uma dimensão de representação. A tomada de posição estética que leva à montagem que resultou em O Espelho consiste em assumir papel mais ativo nesse processo e se concretiza como aproximação da composição à dramaturgia.
Não se trata de retomar uma estrutura dramática tradicional, com personagens e fábula, mas de entender o trabalho composicional, simultânea e dialeticamente, como organização das ações e estabelecimento de um quadro flexível de sentido para essas mesmas ações.
A condução dramatúrgica de O Espelho recria o arco dramático da narrativa de Jacobina sem, porém, representar personagens e cenas. A representação que ocorre é intermitente, fragmentária e ressignifica os dois performers como as figuras da alma exterior e da alma interior: reconhecidas, dissociadas e, finalmente, reintegradas.
As imagens simétricas e assimétricas produzidas pelos posicionamentos e deslocamentos dos performers são o principal recurso narrativo visual (imagem acima). As vocalizações atribuídas aos performers ao longo de toda a partitura oscilam entre a função teatral de narração e a função musical de fonte sonora em uma textura de gestos rítmicos. As distintas qualidades de ação concretizadas gestualmente e sonoramente pelos momentos musicais dão sustentação temporal ao arco dramático e provocam efeitos de distanciamento nas ocasiões em que a performance musical toma o primeiro plano da apresentação.
A problemática colocada em questão nessa composição é o lugar da mimésis, ou seja, da representação nas minhas propostas cênico-musicais. Em experiências anteriores constatei que, uma vez colocada em jogo uma teatralidade, a apresentação (performance musical) passa a ter, quase inevitavelmente, uma dimensão de representação. A tomada de posição estética que leva à montagem que resultou em O Espelho consiste em assumir papel mais ativo nesse processo e se concretiza como aproximação da composição à dramaturgia.
Não se trata de retomar uma estrutura dramática tradicional, com personagens e fábula, mas de entender o trabalho composicional, simultânea e dialeticamente, como organização das ações e estabelecimento de um quadro flexível de sentido para essas mesmas ações.
A condução dramatúrgica de O Espelho recria o arco dramático da narrativa de Jacobina sem, porém, representar personagens e cenas. A representação que ocorre é intermitente, fragmentária e ressignifica os dois performers como as figuras da alma exterior e da alma interior: reconhecidas, dissociadas e, finalmente, reintegradas.
Fotos: Flaviana OX |
As imagens simétricas e assimétricas produzidas pelos posicionamentos e deslocamentos dos performers são o principal recurso narrativo visual (imagem acima). As vocalizações atribuídas aos performers ao longo de toda a partitura oscilam entre a função teatral de narração e a função musical de fonte sonora em uma textura de gestos rítmicos. As distintas qualidades de ação concretizadas gestualmente e sonoramente pelos momentos musicais dão sustentação temporal ao arco dramático e provocam efeitos de distanciamento nas ocasiões em que a performance musical toma o primeiro plano da apresentação.
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